segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Indicação de leitura - "Filosofia Clínica - poéticas de singularidade"


Hélio Strassburger é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria/RS. Filósofo Clínico formado pelo Instituto Packter. Pós-Graduado em ciências sociais, antropologia e filosofia. Atuou em Porto Alegre, Florianópolis e Belo Horizonte, com atendimentos em consultório, hospitais psiquiátricos e no PSF - Programa de Saúde da Família. Professor em Porto Alegre, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Coordena a Filosofia Clínica na Casa de Saúde Esperança (Juiz de Fora-MG), na Secretaria Municipal de Saúde Mental de São João del Rei-MG e na ONG HI-VITA, no mesmo município. É também diretor do Instituto Packter.


Filosofia Clínica – poéticas de singularidade
Hélio Strassburger
Uma reflexão compartilhada realiza-se em poéticas de singularidade. Buscas no diálogo com a natureza plural do ser humano. Quiçá possa desvendar, através da alquimia silenciosa das palavras, a estrutura invisível dos múltiplos fenômenos.
100 páginas
ISBN 978-85-7650-099-5
1° edição, 2007.

Filosofia Clínica - Poéticas da singularidade
Hélio Strassburger
Preliminares

Um prelúdio entremeios de excesso antecipa incertezas na diferença em ser singular. Devir sempre outro, estabelece ângulos de múltiplas faces, na alternância difusa dos espantos. Provisórias narrativas exercitam-se no descobrir de obra aberta com os intercursos da vida. As estéticas do cuidado integram-se, na Filosofia Clínica, em um novo paradigma. Atração irresistível na mediação cotidiana das intencionalidades.
Uma introspecção realiza-se em deslocamento por entretantos atalhos, contradições e paradoxos. Propedêutica a desvendar-se por outras margens. Interrogação de natureza imediata estabelece inúmeros diálogos no âmbito das provisórias convicções. Lugar para a vida insinuar-se nas estéticas do extraordinário. A raridade dos instantes elabora um compartilhar único. Superação das antinomias a predispor vias de acesso, na reciprocidade com os universos do outro.
A escuta em reciprocidade de compartilhar, acolhe em si, aquilo que, para muitas pessoas, é o mais sagrado: sua história de vida. Signos de recém-chegada alternam-se na movimentação dos relatos. Inesperado lugar para decifrar os códigos de acesso as incríveis texturas, em momentos de irreconhecível aparecimento.
Pretextos de caótica ordem alternam-se na imprecisão discursiva. Um espanto de recém-chegada se faz cúmplice a subversão rascunhada nas crises. Um sujeito se reconstrói, no decifrar arcaico das incógnitas. Vislumbre aos lugares da diferença.
Admirável cumplicidade no vaivém das abstrações. Reflexo dos inexplicáveis personagens na atualização descontínua das buscas. Um ponto de vista no talvez imperceptível dos múltiplos disfarces. Espetacular roteiro na semiose não-discursiva das expressividades. Interseção compreensiva com manifestações de aparente sem sentido.
É na reivindicação de uma atenção diferenciada, o ponto de partida para estabelecer contato com as tramas da originalidade. Prefácios de natureza imprevisível anunciam referenciais de linguagem própria. Escolhas por entre miragens do real preferem uma relação distanciada dos consensos. Há que se ter plasticidade para descobrir as senhas às rotas de exceção.
A simbologia narrativa inaugura-se em múltiplas versões. Introdução caótica por onde pode se iniciar a terapia. Harmonia na conversação com as subjetivas verdades. No desvelar simulacros, se faz possível um ponto de encontro, por entrementes de um logos a decifrar seus outros.
Uma fenomenologia do fazer clínico esboça encantamentos indizíveis ao olhar de senso comum. Natureza dessemelhante em traçados de autonomia. Segredos bem guardados podem se oferecer, bem depois que a confiança em poder compartilhar tiver chegado.
Inéditos escolhem ares de um sagrado para si. Percursos em descobertas de originalidade. Modos de ser na manifestação estética dos desatinos. Alternativas ao explorar compartilhado na revelação do espelho (ir)-refletido nos encontros. Aspectos de sem rosto na (in)conformidade de ser normal. Sofisticadas formas engendram enigmas de aparência inexplicável.
Tendo por começo uma investigação-reflexiva compartilhada: a história de vida, suas relações, crenças e contextos, constituem janelas entreabertas ao decifrar improváveis verdades. Os venenos e contravenenos, também se oferecem, no esconde-esconde das narrativas. Possibilidades de (re)significação para a existência. Desconformidade para com os limites atuais. Diálogos em devaneios de intercâmbio com a diversidade de cada um.
As estéticas do humano insinuam-se nos esboços de exótica inspiração. Procura na interrogação múltipla dessas vias de integração. Uma diversidade prodigiosa aprecia imperceptíveis zonas limítrofes a condição humana. Versões de aparente falta de sentido, aparecem na irregularidade dos relatos. Incógnitas aguardam ânimos de interseção compreensiva. Reconhecimento dos inexplorados territórios no desvendar a matéria-prima compartilhada na aproximação retrospectiva com os fenômenos da exceção.
Um existir polivalente multiplica-se nos indícios, em alegorias do recordar. Segredos de aparência enigmática traduzem estranhos horizontes. Ponto de partida ao desvendar-se nos irreconhecíveis espelhos. Um viver inédito ensaia passos no sutil desdobrar das incertezas. Conjugar de estranhamento em tudo aquilo, até então, considerado normal. Re-significar nas traduções de aparente sem sentido. Inacreditáveis atalhos descobrem suas rotas (de fuga). Um absurdo revela-se em hipóteses de viver autêntico.
Mesclas na historicidade compartilhada das sessões. Um algo mais ultrapassa a interseção reflexiva-compreensiva dos encontros. Referencial às recíprocas da atenção e do cuidado. Encontro de hora marcada com a subjetividade do sujeito. Ocasião para as dinâmicas do fazer clínico ganharem sua melhor versão. Apropriação de saber na intencionalidade decifrada com as singularidades. Constituição na superação interativa dos re-começos. Os mistérios do vasto mundo encontram, na pessoa, um laboratório eficaz nas suas experimentações. Formas de saber impreciso no aparente sem nexo das alegorias.
A fundamentação de inspiração analítica e fenomenológica, antes de ser excludente, estrutura-se ao fazer clínico. O ser terapeuta se constitui no absurdo encontro das sessões, numa interação transformadora com as crises. A suspensão provisória dos juízos (alguns), se faz cúmplice aos inéditos. Aspectos de um outro, até então desconhecido, revela-se no pretérito imperfeito das reconstruções. Devir retrospectivo a desvendar vontades e representações. Obra aberta as preliminares investigações, recompõe-se em nostalgias de contar.
A alquimia silenciosa das palavras possui pretextos de expressividade. Tradução das raridades contidas na loucura poética do existir. Com a ajuda dos termos agendados, é possível acessar excepcionais realidades. Incontáveis achados na intimidade do dizer. Vestígios ao descortinar harmonias de aspecto irreconhecível. Uma natureza polifônica estrutura-se na imprecisão de ser estranho. Roteiros de aparência indecifrável elaboram-se em traços de manifestação incrível. Inesperados achados no compartilhar clínico. Um ritual sagrado aprecia descortinar farmácias.
Signos de exceção nos ensaios de ultrapassar a normalidade. Emancipar fronteiras, na (re)descoberta para além das anterioridades. Um Gaijin no (re)começo de cara nova com os recentes achados. Apropriação no viver diferenciado da diversidade representativa. Elucidar incógnitas pressupõe adequação e plasma, desapego e múltiplas habilidades, no vaivém em busca de (re)criar-se.
Um admirar-se reinventa trajetos até então impensáveis. Inesperado esboço no dizer contraditório das interseções. Múltiplos enredos ao olhar capaz de enxergar aquilo que ninguém mais vê. No dialeto das narrativas pessoais, inexplorados territórios insinuam-se em vias de acesso à magia do contar. Jogo de cena nas semioses da presença. A polifonia desses enredos estabelece uma exótica conversação com as estéticas de expressão marginal.
As dialéticas do existir constituem uma sintonia com os ícones da divergência. Percepção de consciência alterada na fenomenologia mutante dos encontros. Enigmas contidos nas descontinuidades encontram, no simulacro dos ensaios, vislumbres ao querer dizer surreal dos discursos. Devir das intencionalidades no sagrado refúgio dos hermetismos.
Indeterminados episódios podem desvendar, na inspiração silenciosa de um dizer qualquer, múltiplos percursos, no aparente sem rumo das opções. O terapeuta ao se fazer cúmplice desses roteiros da investigação, compartilha falas, escutas e olhares. Aproximação com o fora de foco da estrutura em busca de encontrar-se.
Excepcionais biografias aguardam ocasião para revelar-se. No vir-a-ser dos instantes, tudo pode mudar. Experimentos e entrelinhas de dizer contido. Interlocução com as estruturas distanciadas dos consensos. Em busca dos segredos assim constituídos, múltiplos disfarces elaboram rotas de imprecisão aos exóticos esconderijos.
Extraordinárias versões, até então, refugiadas no dizer incompreensível das fantasias, a partir de agora se exercitam na arquitetura multicolorida de aparente sem nexo. Lógicas difusas anunciam um instante qualquer para as manifestações em devaneios de transformação.


Filosofia Clínica - Poéticas da singularidade
Hélio Strassburger
Sumário
 Preliminares
 Lógicas da diferença
 A magia da interseção
 Um olhar de primeira vez
 A surpresa narrativa
 Dialéticas do Lugar
 Refúgios na estrutura do tempo
 Expressividades do silêncio
 O feitiço da palavra
 Jardins da alma
 Um olhar por trás do espelho
 Estéticas da reflexão
 Poéticas do improvável
 Uma realidade imperceptível
 Alquimias
 Cenários imprevisíveis
 Poéticas de ser nada
 Contextos de absurdidade
 Diálogos na perspectiva esquizo
 Especulações sobre loucura alguma
 Fundamentação prática em Filosofia Clínica
 A formação do filósofo clínico
 Um café com sonho
 A vida inteira numa página só
 Bibliografia
 Filmografia

Indicação de leitura - "Filosofia Clínica - Diálogos com a lógica dos excessos"





Hélio Strassburger é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria/RS. Filósofo Clínico formado pelo Instituto Packter. Pós-Graduado em ciências sociais, antropologia e filosofia. Atuou em Porto Alegre, Florianópolis e Belo Horizonte, com atendimentos em consultório, hospitais psiquiátricos e no PSF - Programa de Saúde da Família. Professor em Porto Alegre, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Coordena a Filosofia Clínica na Casa de Saúde Esperança (Juiz de Fora-MG), na Secretaria Municipal de Saúde Mental de São João Del Rey-MG e na ONG HI-VITA, no mesmo município. É também diretor do Instituto Packter.


Filosofia Clínica - Diálogos com a lógica dos excessos
Hélio Strassburger
A expressividade da loucura é uma espécie de laboratório aos conteúdos sem vocabulário conhecido. Representações desajustadas podem conter a diversidade figurativa de cada um. As verdades inacreditáveis são provisórias, como o mundo ao seu redor.
130 páginas
ISBN 978-85-7650-209-8
1° edição, 2009.


Filosofia Clínica - Diálogos com a lógica dos excessos
Hélio Strassburger
Esta obra é uma descontinuidade das ‘poéticas da singularidade’.
Busca tecer críticas, provocar reflexões e insinua caminhos para a desconstrução das práticas ideologizadas a partir das tipologias do desatino.
Compartilhar vivências de atendimentos, impressões e pesquisas sobre a raridade existencial da pessoa em refúgios de internação, sejam eles dentro ou fora dos muros do manicômio.
Lugar onde a palavra usual encontra dificuldades para chegar e manter interseção com a epistemologia da loucura.
A singularidade desfigurada pelas intervenções da tradição mostra, antes de mais nada, a aptidão de exclusão das analíticas da correção discursiva.
Ao se levar em consideração a distorção, o erro e as contradições do sujeito, reivindica-se o estudo do entorno da pessoa em crise: o contexto, família e o psiquiatra, que são coadjuvantes com poder (jurídico) para transformá-lo em paciente, ao prescrever suas drogas de lógica normal.
No saber desajustado dos delírios, algo mais se anuncia entrevistas de tradução.
Sua fonte de inspiração ao permanecer incógnita, também se anuncia nas tramas de excesso.
O éthos da loucura encena múltiplos personagens, entremeios de rasuras da normalidade.
Diante das pretensões da razão classificatória um viés excepcional assume papéis intermináveis.
A internação contrariada, a distorção das originalidades, o saber farmacológico e o alienista fundamentam a exclusão representada pela instituição sanatório.
Ao expor, com sua grande sensibilidade, os absurdos da sociedade que produz sua loucura, o louco a supera outra vez. Seu discurso de transbordamento possui encantos de língua marginal.
Aprecia o não-ser como ponto de partida aos esconderijos, até então desmerecidos dentro de si.
A indústria da loucura encontra apoio significativo nas práticas de alienação, onde o consumo a qualquer preço impõe suas regras.
As relações passam a ser mediadas pelas bugigangas ao redor.
Aptidão de esquiva à introspecção e ao autoconhecimento.
Sua característica principal é a insinuação, constantemente remarcada, de alguma forma de ganho, sucesso ou desempenho diferenciado.
Como a maioria das pessoas pode passar uma vida inteira na periferia de si mesma e a conviver com um ilustre desconhecido, fica relativamente fácil cooptá-las para as verdades ocultas nas relações sociais de objeto para objeto.
No entanto, os rastros da palavra maldita atualizam silêncios, lacunas e transgressões de paradoxo.
Devir descontinuado a ensaiar rotas ao ser extraordinário.
A imprecisão dessas teias discursivas realiza um trânsito aprendiz pelos ditos exóticos da razão delirante.
Para permanecer como subjetividade indecifrável, o sujeito, muitas vezes, desloca-se nalguma forma de silenciar.
Um território novo e sem vocabulário conhecido esparrama vestígios de multidão. Antecipa uma epistemologia dos excessos.
As coreografias desdobram-se no intermédio invisível da sanha diagnóstica. Ao lugar inacessível para a sintaxe conhecida, uma incompletude discursiva refere indícios de profecia. Fonte de inspiração desmedida aos esconderijos distantes da normalidade.
A folia do fenômeno carnaval pode desfazer vertentes de uma só verdade.
Ensaios de natureza mutante desdobram-se na imensidão dos exageros.
O ser errático dos devaneios revela interstícios sem correspondência na realidade conhecida.
Saber absurdo nas evasivas de introspecção.
Aparente desconexão entre nada e tudo de qualquer coisa.
Suas exceções convidam para enxergar através dos escombros da historicidade.
Episódios inesperados apreciam o esboço em caricaturas de aparência incrível.
Um querer dizer nem sempre é capaz de transgredir os dialetos conhecidos.
Ao visar exaltado da atitude delirante o mundo pode se mostrar alterado.
Uma vasta região segue indescritível, em uma zona de sombra e luz.
A lógica das diferenças, ao tentar descrever as desconhecidas rotas, prenuncia disparates de invenção.
Assim, é impreciso resgatar o louco de seu exílio, pois não se trata de considerá-lo a partir do ponto de vista normal, mas de respeitar seu viés existencial em uma busca onde todos se encontram.
O fato de não compreender sua língua, rituais ou desvario não justifica sua prisão e tratamentos de reconversão.
A natureza absurda desses abismos sugere outras fontes de razão, mesmo quando desmerecida pela medicina conhecida.
A internação involuntária, a camisa-de-força do preconceito e as práticas com base no DSM-IV (manual psiquiátrico americano) encontram ecos de evasiva ao desconsiderar segredos encobertos na desrazão.
Assim, o caótico instante, as alucinações ou a falta de jeito podem ter diagnóstico de alguma patologia.
Sempre que isso ocorre, o discurso estrangeiro do alienista procura traduzir o mundo incompreensível do outro sujeito em linguagem própria.
Ao classificar como insanidade seu deslumbramento com a vida, institui refúgios em caricaturas de coisa nenhuma.
Aos desatinos contidos na racionalidade, nem sempre basta seguir suas prescrições.
Para ela, os extraordinários presentes da vida singular surgem como confusão, desajuste ou dúvida.
Talvez a interseção positiva consiga re-significar esses instantes de improvável recomeço.
À pessoa exilada em si mesma pode restar a expressão dos monólogos com suas paredes.
Em meio ao denso labirinto ampliado pela farmácia do hospital, as vozes e visões atualizam a sobrenatural descontinuidade dos dias.
Na aproximação com os outros de sua aldeia, o devir da loucura pode surgir como genialidade, desajuste ou simulacro.
A Filosofia Clínica, como paradigma de obra aberta, aprecia a conversação aprendiz com a trama maldita nas subjetividades.
Quem sabe a compreensão dos excepcionais discursos possa revelar outras verdades?


Filosofia Clínica - Diálogos com a lógica dos excessos
Hélio Strassburger
Sumário
§ Apresentação
§ Simbologia das palavras
§ Um estranho no espelho
§ A subjetividade interdita no delírio
§ Fenomenologia da loucura
§ Discursos de transgressão
§ Simulacros da realidade
§ Dialéticas do inesperado
§ O instante aprendiz
§ Versões extraordinárias
§ Labirintos da introspecção
§ Uma realidade visionária
§ O espetáculo da ilusão
§ Incontáveis disfarces
§ Anotações sobre a estrutura do abismo
§ Estéticas da desconstrução
§ Arte de engendrar
§ Apontamentos a uma epistemologia dos rituais
§ Um olhar estrangeiro
§ Médicos do espírito
§ Ser Filósofo Clínico
§ Refúgios da singularidade
§ Casa de Saúde Esperança
§ Lógica dos excessos
§ Bibliografia
§ Filmografia

Lúcio Packter - criador da Filosofia Clínica





Lúcio Packter, um nome de muitos
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Como devo chamar alguém, pelo seu nome? Mas o que é um nome? Um surdo ou indistinto rabisco num papel que nada significa, sem história? Apenas um ruído, um gesto da boca ou da mão, sem propósito ou verdade? Este signo dado a uma criança ao nascer, de acordo com a cultura e os costumes de cada povo e pelo qual ela é conhecida e chamada, menciona alguma “substância” e pelo menos alguns adjetivos. Um nome pode ser legitimamente substituído por meras interjeições ou até simples assovios... Pode-se dá-lo sobre várias linguagens, trocá-lo mais tarde por apelidos ou pelos ajustes do marketing. Tudo isso e muito mais, com vários termos de comunicação, como a chamar pelos olhos, um apontar o dedo ou por um gesto de carinho. Pode-se dar a um homem um nome qualquer, indiferente ou carregado de grande importância social... mas as profundidades desse nome só poderão ser ouvidas na certeza de que nenhum conhecimento é suficiente à vida.
Há uma diferença em dizer: “– ei pedra!” e “– ei José!”. Mas qual? Seria imperdoável engano pensar que hoje em dia as pessoas sabem-na bem. Até porque ainda é mais fácil usar um só nome para muitos, poupando o desconcerto e o tempo da pergunta: “qual o seu nome?”. Uma multidão de mistérios e segredos individuais, chamados de “...seu Zé, dona Maria” etc. Segredos tão velados que nem os próprios saberiam contar. Codinomes que toda estação e sociedade possuem, fabricam, multiplicam e até esquecem de que guardam algum sobrenome. Ainda que a memória me deixe lembrar o quanto já conheço de alguém, o fato de repetir seu nome nem sempre me permite saber alguma verdade. E o que se pode entender por um nome, se não um resumo de pensamentos e desejos... dos nossos pensamentos sobre ele? Pensam alguns que só índios, místicos e orientais possuem nomes com significados. Quanta tolice! Acaso o sentido da vida está posto em palavras? Também, mas a vida tem muitos nomes. As palavras se repetem, porém o significado da existência que um nome próprio expressa não tem som. Nome é o título dado a uma biografia, mesmo que em anonimato nunca se o pronuncie.
É bem verdade que o nome de uma pessoa, sem nenhum prejuízo ou caráter diminutivo, pode ser irrelevante para ela mesma. Nem por isso se deve chamar outrem como se ele não tivesse uma estima de preço inigualável; como fosse proprietário da atenção alheia, reclamando a posse. Nome próprio não é sinal de mando, nem de obediência. Há que se demorar um pouco nos olhos, para que a vida não perca a direção e jamais esqueçamos que, se as roupas se parecem, os olhos não. Em casos legítimos de timidez, existem recursos maravilhosos. Percorra rapidamente o rosto, valorizando os sorrisos no canto da boca, ou qualquer tristeza, a pedir compaixão; o brinquedo que a criança exibe; a roupa de quem dela se orgulha; o ambiente em que se dá o encontro; o aroma gostoso do perfume, se houver... Ouça atentamente o que ela tem a dizer, e não se esqueça de retribuir a certeza de que ela foi ouvida. Elogios nem sempre usam palavras.
Enfim, há sempre tantas coisas para se observar naquele que cumprimentamos, que é possível descobrir qualidades que definem mais e melhor que seu próprio nome, como referências de identidade, pelas quais ele gostaria ser conhecido, como a dizer: “fulano, aquele moço inteligente, que é educado com todo mundo...”. Em especial, o mais importante do nome de uma pessoa, a cada encontro, é a história de vida dela, que não sabemos e talvez não devamos saber. Quando se deseja saber quem é alguém, o nome é a palavra dada ao mistério e à beleza que isso tudo representa. Quem apenas se interesse pelas atividades da semana e os desejos do corpo, não há de entender uma personalidade à luz da história de um povo ou do apreço que lhe confere um amigo, pelo qual todos os anônimos revelam seu valor.
Ao anonimato, contudo, existem duas formas extremas e diferentes de significá-lo, além, naturalmente, dos meios-termos. Uns são desconhecidos porque não têm autoria em quase nada, indiferentes a tudo. Há pessoas que, existindo, pouco vivem a própria realidade e, como fantasmas errantes, não enchem suas casas com alegrias. Conquanto se banqueteiem de mil caprichos, bebam e comam fantasias de consumo, obesos, fastos e cheios do cotidiano... espiritualmente estão cansados. Com o tempo, a preguiça lhes aumentou o peso e a ilusão de que a vida é um fardo e o trabalho uma maldição.
Porém, há anônimos grandes, porque engrandecem a vida de todos. Sabe-se a grandeza de alguém pela forma como trata os pequeninos: com igualdade. Acordando os seus sonhos, iluminam a existência dos que ainda dormem na vida. Humildade dos heróis, não dos covardes, pois suas vidas não lhe cabem no corpo e, excedendo-se em coragem, vencem o impulso de acreditarem-se melhores. Com mais poder, aceitam a ajuda dos mais fracos, alimentando-lhes a crença da força em si mesmos. Possuem a caridade de receber o melhor de cada um, e preferem isso a serem conhecidos como doadores. São mestres a desejar outros mestres e não discípulos, deixando as lições e provas para as escolas da vida.
Dizendo assim, um nome é tão maior quanto maior for a compreensão do seu significado e as profundidades da sabedoria. Seja o nome conhecido ou não. O registro de cada um nesta vida é a máscara ou a lente que esconde ou revela o coração da humanidade no peito que o abriga. Não obstante uns sejam ávidos por renome, outros encontram paz na escuta. Conheci pessoalmente homens e mulheres de ambos os tipos. Mas, para ser verdadeiramente justo com os bons, devo dizer que nenhuma virtude é exclusiva de alguém. Antes, qualquer mérito pessoal é resultado das conquistas acumuladas e forças conjuntas da sociedade e da história de todos os que lhe envolvem e antecederam. Quantas vezes foram os maus que nos ensinaram que também não éramos bons? E o que dizer de um campeão olímpico, se não que a potência da sua saúde física e sua determinação moral existem, têm origem e dívidas com a família que lhe alimentou e o fez crescer? Isso e tanto mais detalhes que não podem ser suficientemente conhecidos... Talvez a única exclusiva e legítima virtude de um indivíduo seja a gratidão que se deve ao mundo que o sustenta.
Não existe pura individualidade. Cada ser humano é duplo, é a substância física e espiritual do mundo acrescida de uma vontade e uma consciência de limites pessoais. As moléculas dos meus ossos e músculos são exatamente iguais a de muitos minerais da terra, e nenhum átomo sequer pertence exclusivamente a alguém, em suas constantes mudanças de energia. E qual é a perfeita diferença entre os meus sentimentos de amor e ódio e as emoções com que Machado de Assis escreveu toda a sua obra, a falar da condição humana? Que resposta pode se dar à pergunta: quem sou eu? De que são feitas as minhas crenças, inteligência e caráter? Eu sou o mundo sob o alcance da minha perspectiva, a soma da energia e influência dos meus professores do colégio, da genialidade dos artistas, cientistas, filósofos e santos, dos livros e também das lavadeiras, dos motoristas de ônibus, médicos e faxineiros, do movimento hippie nos EUA, da Revolução francesa no séc. XVIII, da mobilização mundial contra o nazismo e seu atual ressurgimento a me exigir sérias atitudes... Tivesse eu nascido noutro continente, família, cultura, religião e classe social, ainda que numa mesma época, haveria de conhecer, pensar, sentir e ser quem eu acho que sou? Muitas e muitas vezes a experiência demonstrou eu ser o contrário do que eu próprio imaginava ser. A resposta é que eu sou o que sei e muito mais ainda o que não sei de mim mesmo. O que fizeram de bem e de mal em mim e, especialmente, o que eu souber fazer com isso.
Cônscio de seu real tamanho, uma pessoa verdadeiramente boa toma para si a responsabilidade de cuidar dos semelhantes. Esta é a sua diferença dos tolos, que sequer cuidam de si próprios. Os tolos ainda não sabem que estão unidos ao destino comum e que suas mais íntimas qualidades fazem parte do mundo em que elas se encontram. Todos somos elos sagrados entre o passado e o futuro, na evolução da vida. Há pessoas que são como pérolas, outras são como ostras. Mas de onde vêm as pérolas? Do que sei, aprendi que a bondade vem da gratidão e da alegria em retribuir o legado da história dos grandes e do silêncio dos anônimos. Os que beberam da seiva universal da vida, da humildade e da certeza de que todos somos um, cada qual ao seu modo, entusiasmaram seus temperamentos com vontade e suas iniciativas com o trabalho. A vida dá a cada pessoa um talento especial, como fonte de sua íntima sensação de ser pessoalmente humano, herdeiro da humanidade. Em cada nome há um talento único para se definir, e é a isto que se deve evocar, quando alguém é chamado.
É no bojo dessa reflexão filosófica do nome e o ser do nome que me debruço com a gigante tarefa de saber como devo chamar o amigo, o terapeuta, o professor Lúcio Packter, pois ele professa meus anseios do bem e os de toda a família dos inquietos e esperançosos. Ao repetir seu nome, pelo amor que ele investe na vida e nos seres, eu ouço as ambições benignas da coletividade e o imperativo das mudanças que confirmam à história o seu papel de progresso. Pelo que o nome representa, acredito que quando seu nome for dito pela geração do porvir, entre os filósofos e os homens de bem, e mesmo entre aqueles que gostam de repetir nomes famosos, retirados dos livros, não será apenas o de uma pessoa no singular. Terá sido pronunciado um dos nomes da expansão e maturidade de nossa era, pois sei que nele vivem a compaixão, as vitórias e as derrotas, os dramas e os gozos da história humana.
Uma vida, uma humanidade. Isso é igual para todos, mas nele – o que é inalienavelmente atributo privilegiado de seu caráter – a isto se acresceu a coragem de atender ao apelo visionário de sua época. Como um pequeno profeta, que não opera milagres, mas ajuda uma nação a articular as alternativas do seu próprio destino, através da Filosofia Clínica, sua criação, ele nos proporciona hoje uma visão nova e ímpar da psicoterapia e dos cuidados para com o outro. Esta filosofia provará ser de imensa fecundidade histórica, não por ser uma promessa, mas sim por já iluminar o presente. Quanto a este homem, não há porque falar da maneira como ele se veste, se comporta ou dos pequenos detalhes. No entanto, para se compreender de modo justo o bem que representa, é preciso ver nele o que o nosso tempo nos pede para ver, e nos perguntar que caminhos seguir. Somente assim compreenderemos que resposta ele soube nos dar. Nos anos em que o tenho ouvido, muito tenho aprendido sobre a humanidade e o que diz o respeito ao próximo. O seu nome é Lúcio Packter e assim devo chamá-lo, mas seu pronome pessoal é “nós”.

[*] O presente artigo foi pronunciado na noite de 23 de junho de 2002, na sede do Instituto Packter, em Porto Alegre, na Semana de Estudos em Filosofia Clínica. O texto foi adaptado para publicação.